Andrea Rebello
Ginecologia e Obstetrícia
Parto humanizado: respeito ao tempo
da mulher que está parindo e do bebê que está nascendo
Obstetra vem do latim "obstare", que quer dizer esperar. O nosso papel é esperar a natureza seguir o seu curso e estar atenta para o caso de precisar fazer alguma intervenção que garantam a qualidade de vida da mãe e do bebê. Se tudo estiver indo bem, quem define o tempo são eles!
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Parto vaginal: quando que o bebê nasce pela vagina
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Cesárea/cesariana: cirurgia na qual o bebê nasce através de um corte no abdome materno. Como toda cirurgia, tem seus riscos e o ideal é só realizar em caso de real necessidade
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Parto natural: aquele no qual não há nenhuma intervenção médica (mesmo o médico estando presente)
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Parto assistido/cirúrgico: parto vaginal no qual utilizamos algum aparelho para promover a saída do bebê (fórceps ou vácuo-extrator)
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Parto domiciliar: aquele que ocorre na casa da gestante
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Parto hospitalar: ocorre dentro do hospital/maternidade
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Parto humanizado: pode ser vaginal, cesárea, fórceps, domiciliar, hospitalar etc, contanto que o atendimento seja individualizado, que se respeitem os desejos da mulher e não se realizem intervenções desnecessárias
QUAL É A DIFERENÇA ENTRE OS TIPOS DE NASCIMENTO?
O QUE É PARTO HUMANIZADO?
A ideia de assistência humanizada ao parto baseia-se em 3 pilares:
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Acreditar que a gestação e o parto são eventos fisiológicos e, portanto, necessitam do mínimo de intervenção possível;
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Saber que a mulher é a protagonista desse evento, logo, é imprescindível o respeito aos seus desejos e sua autorização para a realização de procedimentos;
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Manter-se atualizado seguindo o que há de mais recente nas evidências científicas (aqui não há espaço para “achismos” ou discursos do tipo “eu faço assim porque me ensinaram assim”).
PARA QUAL MULHER O PARTO HUMANIZADO É INDICADO?
Para quem quiser. Optar por um parto humanizado significa optar por ter a sua vontade respeitada acima de tudo e por ter assistência obstétrica que se adapte ao seu perfil enquanto indivíduo. A gestação, o parto e a maternidade são momentos únicos na vida de uma mulher e, por isso, devem ser tratados de forma especial. A experiência deve ser lembrada com carinho do começo ao fim, e não de forma traumática.
O parto normal vai doer?
Vivemos numa cultura de medo da dor. Precisamos disassociar DOR de SOFRIMENTO. Parir dói? Sim. Quanto? Depende da sua tolerância à dor, de como você encara o momento, do contexto que cerca essa gestação, do apoio que você recebe, se você opta pela analgesia. Mas quando você está preparada, consegue atravessar a dor de maneira mais consciente e tranquila, não existe sofrimento acompanhado. Já acompanhei mulheres que afirmaram que seus partos naturais foram indolores ou mesmo orgásmicos. Sim! Acredite! Isso é real!
UMA GRAVIDEZ DE RISCO IMPEDE QUE A MULHER TENHA UM PARTO NORMAL?
Não impede, mas cada caso deve ser avaliado individualmente, pesando riscos e benefícios tanto para a mãe quanto para o bebê. É importante ressaltar que a cesárea é uma cirurgia e, portanto, em geral tem mais riscos envolvidos do que um parto vaginal, incluindo maiores taxas de hemorragia, infecção, trombose e outras complicações.
COMO FUNCIONA O ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL?
Segue-se a recomendação do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS). As consultas pré-natais devem ser mensais até o 8° mês (34 semanas), quando passam a ser quinzenais. A partir de 38 semanas, as consultas devem ser semanais. Numa gestação de risco habitual, as consultas podem ser intercaladas entre o médico e a enfermeira. O total de consultas para caracterizar um acompanhamento adequado deve ser de no mínimo 6. Não existe alta do pré-natal! O acompanhamento só encerra depois que o bebê nasce!
É VERDADE QUE OBSTETRAS HUMANIZADOS ODEIAM CESÁREA?
Com certeza, não. Eu amo a cesárea e sou muito grata por ela existir, pois ela salva milhares de vida todos os anos. O que a gente odeia é a cesárea eletiva, que trata o nascimento como se fosse um evento médico, que pode ser agendado, e não um evento biológico.
Nosso país vive uma epidemia de cesárea. Somos campeões MUNDIAIS. A OMS recomenda que no máximo 15% dos nascimentos sejam por via abdominal. Mas quase 50% dos brasileiros vêm ao mundo por esse método (80% na rede particular). O problema é multifatorial, com motivos que vão desde a baixa remuneração dos convênios aos médicos, à falta de informação da população, à cultura de medo da dor etc. Temos muitas ferramentas para usufruir antes de optar pela cirurgia.
QUEM FAZ O PARTO HUMANIZADO?
Quem faz o parto, seja ele humanizado ou não, é a mulher. Ela é a protagonista desse evento!
Quanto aos profissionais envolvidos, uma equipe multidisciplinar humanizada em geral é formada por um(a) médico obstetra, uma enfermeira obstetra ou obstetriz e por uma doula. Também recomendamos a presença de uma pediatra de confiança para os primeiros cuidados com o bebê, o trabalho de fisioterapeutas pélvicas e, caso a anestesia seja uma possibilidade, um anestesista ou coletivo de anestesistas que trabalhem de acordo com os pilares da humanização.
A doula não é profissional da área de saúde, é uma mulher capacitada para dar suporte emocional à gestante/parturiente. Sua função é fundamental, porém quem realiza o atendimento técnico ao parto são os médicos obstetras e as enfermeiras obstetras ou obstetrizes.
MEU MÉDICO NÃO ATENDE PARTO HUMANIZADO. E AGORA?
É importante saber que alguns médicos não gostam de rótulos e, portanto, não se intitulam como “humanizados”. Mais importante do que o nome em si, são as condutas adotadas pelo profissional na assistência à gestante. Fale abertamente sobre o parto desde a primeira consulta, solicite a taxa de cesárea do médico junto ao plano de saúde, converse com outras mulheres que tiveram seus filhos com o mesmo profissional. O importante é identificar se aquilo que o profissional te oferece está condizente com as suas expectativas. Caso contrário, procure indicações com outras mulheres, doulas, em grupos presencias e/ou virtuais, etc. Enquanto o bebê estiver na barriga, ainda dá tempo de mudar de ideia.
SE EU OPTAR POR UM PARTO HUMANIZADO, ONDE MEU BEBÊ VAI NASCER?
A mulher deve parir no local onde ela se sente mais segura. A Organização Mundial de Saúde (OMS) respeita o direito de escolha do local de parto pelas mulheres, contanto que elas estejam sendo assistidas por profissionais habilitados. Pode ser em sua própria residência, numa casa de parto ou no hospital.
O QUE É VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA?
COMO POSSO ME PROTEGER?
Todos os procedimentos e atitudes que agridem, constrangem, retiram a individualidade da mulher no período da gestação, parto, pós-parto e abortamento. Exemplos: agressões verbais (“na hora de fazer não doeu”), privação de acompanhante, lavagem intestinal, raspagem dos pêlos pubianos, separação de mãe e bebê saudáveis, episiotomia de rotina, referir-se à gestante/parturiente com termos intantilizados e genéricos (como “mãezinha”), agendar cesárea eletiva sem indicação baseada em evidências científicas, manter a mulher em jejum durante o trabalho de parto, realizar sucessivos exames de toque vaginal, introduzir leite ou fórmula ou oferecer chupeta ao recém-nascido sem autorização da mãe, culpar a mulher em relação ao abortamento. Para se proteger, é essencial se informar muito, ler, estudar, conversar com quem já passou sobre isso, criar uma rede de apoio, redigir um plano de parto.
o parto humanizado é caro?
quanto vou pagar?
Tudo depende de quais profissionais você vai contratar; se irá usar o SUS ou se tem convênio e, nesse caso, quanto é o reembolso; se vai utilizar a equipe do plantão ou equipe particular; se vai ter o bebê em casa ou no hospital. Pode sair de graça até cerca de R$20.000,00. Meu conselho é se preparar mesmo antes da gestação. Algumas pessoas guardam dinheiro para viajar, trocar de carro ou fazer uma cirurgia plástica. Por que não se programar financeiramente para a chegada de um filho? Converse com o(a) parceiro(a). Programe-se. Se foi uma gestação não planejada, faça as contas, reflita e decida o que é mais importante para você. É parir com a mesma equipe que acompanhou seu pré-natal? É parir na sua casa, rodeada pelos seus filhos mais velhos? É utilizar o melhor que seu convênio oferece em termos de hotelaria? É não sentir dor? Só você pode tomar essas decisões e não cabe a ninguém julgar as suas escolhas.